Republicação do texto da Adriana Caraccio Morgan (1968-2017) para os números 1 e 2 da revista Metáfrase, de setembro e dezembro de 2016, respectivamente.
Não quero dinheiro, só quero amor!!! Mentira!!! Infelizmente (ou felizmente!), vivemos no mundo da matéria e nosso tempo é finito. E tem um custo. Temos que saber colocar um preço justo em nosso trabalho, pois é com esse dinheiro que vamos viver. Aqui, vou focar na questão meramente financeira: depois que ganhei o dinheiro, o que faço com ele? Quero mostrar como podemos equilibrar nossas contas, para que o dinheiro possa “sobrar”.
Na verdade, o ideal é que consigamos nos organizar para incluir o pagar ao nosso “eu futuro” também como se fosse uma conta, uma despesa. Mas sabemos que, na prática, a teoria é outra. É importante fazer contas, questionar aquelas despesas pequenas. Não, não vou falar para economizar no cafezinho, se esse é um grande prazer seu. Mas vou falar para você avaliar a sua rotina e ver o que realmente pode ser cortado — caso você precise cortar algo. Você precisa MESMO daquele combo com “200 mil” canais de TV a cabo, 500 minutos no telefone e internet megaincrível? Talvez não. Talvez sim. Aí, cada um tem que olhar para si. Você precisa ter o celular no pós-pago? Experimente, analise sua conta, repense. É CLARO que as empresas SEMPRE vão dificultar quando você vai sair do plano megahiperblaster para o plano mínimo. Talvez você precise trocar de empresa. Mas é preciso sair da zona de conforto, e se lembrar de que “só” 100 reais por mês significam R$ 1.200,00 no ano.
Depois de arrumar um pouco a “casa”, começar a fazer investimentos. Começar a pensar em ter uma reserva, um dinheiro para nos ajudar a pagar as contas em dia, num mês em que um cliente atrasou ou que não trabalhamos tanto quanto seria preciso. E fazer investimentos para planos maiores – um fundo de reserva para doença, todos precisam ter seguro de vida, um fundo de reserva para nossa aposentadoria, para podermos diminuir o ritmo no futuro, para podermos tirar uma licença maternidade etc.
Dinheiro é liberdade. Dinheiro é liberdade. Dinheiro é liberdade: a liberdade de poder dizer não para um trabalho chato, de poder “demitir” um cliente chato e ruim de pagar, que nos desrespeita, de poder tirar uma semana de férias. Não vou mentir aqui: eu poderia/deveria ser bem mais organizada nesse quesito. Mas vamos juntos. Pretendo desmistificar algumas opções de investimento, para tirar a maioria aqui da poupança.
Como ter um orçamento pessoal? (Principalmente um que funcione para freelancers!)
Apesar de alguns de nossos leitores serem assalariados, acho que posso afirmar que a maioria dos tradutores atua como freelancers, ou tradutores independentes. Já faz muito tempo que não sou assalariada, meu último holerite é do século passado…
ECONOMIA PELO LADO DA RECEITA
Como assalariada, eu ganhava pouco e não tinha quase nenhum dinheiro guardado. Mas com uma receita fixa, é mais previsível — você ganha, digamos, dois mil reais, e deve procurar economizar e investir no mínimo R$ 200 por mês. Se conseguir mais, maravilha. Guardar de 10 a 20% da receita mensal/anual é uma boa medida, recomendada por muitos consultores financeiros. Para quem é freelancer, já complica um pouco. Por um lado, muitas vezes ganhamos bem mais do que se fôssemos assalariados — e deveríamos ganhar mesmo, afinal, somos responsáveis por nossa assistência médica, férias, 13º salário, FGTS, provisão para aposentadoria — caso desejemos espelhar nossa remuneração no que os assalariados recebem. Por outro lado, a nossa receita é variável, o que nos obriga a ter mais disciplina e organização.
Podemos adotar várias estratégias: pode ser um percentual de cada trabalho (calculando como se fosse um “imposto”, mas este é para nós mesmos, que delícia!), do resultado mensal ou, ainda, do resultado anual. A economia anual pode ser da seguinte forma: você pode definir que quer guardar seis mil reais por ano (R$ 500 por mês), por exemplo. Num determinado mês, houve um contratempo e você não conseguiu separar esse valor, ou você enfrentou três meses de secura, com poucos trabalhos. Anote na sua planilha que você deve aquele dinheiro para você mesmo. O importante nessa sua estratégia seria conseguir guardar seis mil reais/ano.
ECONOMIA PELO LADO DA DESPESA
Agora, muitos podem dizer “Ah, mas mal consigo pagar minhas contas, como vou guardar dinheiro?”. Certo, vamos pensar no lado da despesa. Já mencionei algumas coisas anteriormente, e vou me aprofundar. Analise a sua vida e as suas despesas.
– TV a cabo: quando eu assinava o serviço, costumava assistir a quatro ou cinco canais. Tem tanto repeteco e reprise… Cheguei à conclusão de que o valor que eu pagava por mês não valia a pena. Tenho uma TV Smart, fiquei com Netflix e YouTube, que têm muito material nos gêneros que eu gosto. Cortei uma despesa.
– Telefone fixo/celular: analise o seu perfil de uso. Precisa mesmo ter o telefone fixo? Para mim, foi assim: meu telefone fixo deu problema, a empresa foi à minha casa umas três vezes, não conseguimos resolver, decidi cancelar o serviço. A maioria dos meus clientes já me ligava apenas no celular (e no WhatsApp). Seu celular precisa ser pós-pago? Eu uso um plano chamado Plano Controle, pago um extra de internet, ponto. Você tem família grande? Verifique com as empresas se os planos familiares atenderiam bem e se têm uma boa relação custo/benefício. Avalie os serviços que você já tem. Por exemplo, o Skype – você pode colocar uma graninha lá e funciona muito bem para ligar para telefones fixos – uso muito, a qualidade costuma ser ótima e é bem barato.
– Internet: aqui eu já sou a favor de gastar mais. Afinal, com uma boa internet, seu Skype e WhatsApp funcionarão bem. Também já falei com clientes e amigos ligando pelo Messenger do Facebook — é ótimo. Há alguns anos, percebi que se eu mudasse de empresa (saí da Net para a VivoFibra), teria um plano muito melhor de internet, com um aumento mínimo no valor mensal.
– Combos: você usa os combos de alguma empresa? Faça as contas para ver se vale a pena. Eu nunca gostei de combos.
– Tarifas bancárias: pesquise, avalie. Quem tem conta pessoa jurídica não consegue escapar, mas a pessoa física pode ser aquela conta digital. Isso eu ainda preciso mudar, meu gerente me deu uma canseira e venceu a batalha. Mas voltarei a esse ponto e pretendo ter minha conta digital em breve. Não uso talão de cheques há anos, faço tudo pela internet, não tem por que pagar muito. Só de cortar a TV a cabo e o telefone fixo — serviços que não me fizeram falta — passei a economizar um valor significativo todo mês.
Meu raciocínio é sempre tentar utilizar ao máximo um serviço que eu já precise pagar. Por exemplo, plano de internet é parte da cesta básica da vida moderna, né? Principalmente para nós, tradutores. Então, prefiro pagar um plano melhor, pois com isso eu posso ter um bom streaming (Netflix e YouTube) e também baratear a telefonia (usando Skype e WhatsApp e só usando a franquia do celular quando necessário).
JÁ FIZ TUDO ISSO, ADRIANA… MAS NÃO RESOLVEU…
Seu orçamento já está bem enxuto, mas você sempre sai com os amigos ou pega um cineminha com aquela pipocona maravilhosa (que custa mais do que o filme!)? Não compre a pipoca, por exemplo, deixe para comer em casa… ou faça uma sessão de cinema na sua casa. Deixe de ir ao barzinho uma vez por semana. Nem sei quanto se gasta em barzinho, pois não faz parte da minha rotina há muito tempo. Faça uma reunião com os amigos em casa, ao estilo “cada um leva uma coisa”. Mas você pode pensar: “Ah! Mas, Adriana, R$ 200 ou R$ 300 por mês não dão pra nada…” Falaremos sobre isso em um próximo post. Até lá!
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