Blog

O que aprendi com a Abrates Afro nos últimos dois anos

Aviso aos incautos que a iniciativa Abrates Afro começou como uma ideia e ganhou materialidade no dia 15 de junho de 2018. Nessa data, durante a abertura do 9º Congresso Internacional da Abrates, provoquei nossa comunidade de tradutores e intérpretes dizendo que iniciativas institucionais são necessárias para estimular maior presença, representatividade e permanência de profissionais negros em nossos mercados. Sugeri a criação da Abrates Afro para cumprir essa missão. A então diretoria da Abrates acolheu a iniciativa de pronto e começamos a trabalhar no mesmo ano.

Ao longo dos últimos 2 anos, aprendi que o sucesso de iniciativas institucionais como a Abrates Afro é fundamental para atingir o objetivo de fomentar maior presença de profissionais negros nos mercados de tradução e interpretação simultânea no Brasil. Entre 20 de outubro de 2018 e 30 de janeiro de 2020, a Abrates Afro, em parceria com a UNIPERIFERIAS, ONG com atuação educacional no Complexo da Maré, Rio de Janeiro, ofereceu três cursos: um curso introdutório às carreiras de tradutor e intérprete, um curso de formação em tradução e um curso de tradução de contratos.

Esses cursos me ensinaram três importantes lições: 1) oferecer os cursos em formato online é fundamental para promover capilaridade e atender às necessidades dos alunos; 2) o ensino das técnicas de tradução deve ser aliado a conteúdo afrocentrado e ao uso de CAT TOOLS; 3) é importante criar redes de suporte e grupos de prática para alunos egressos dos cursos. As duas últimas constatações evidenciam que, além da formação técnica necessária para trabalhar como tradutor profissional, o estímulo à formação de redes de apoio para profissionais negros e a reflexão sobre questões pertinentes à negritude e à luta antirracista são igualmente importantes. Vale destacar a atuação de iniciativas como o Núcleo Ubuntu Libras e o Coletivo Obirin que buscam, em linhas gerais, fortalecer a cultura afro-brasileira, congregar profissionais negros e compartilhar oportunidades de trabalho e crescimento profissional.

Acredito que a inclusão, representatividade e permanência de mais profissionais negros nos mercados de tradução e interpretação simultânea no Brasil estejam intrinsecamente ligadas à disseminação de cursos de formação voltados às comunidades negras, como os promovidos pela iniciativa Abrates Afro; à criação de redes de suporte para profissionais negros, como o Coletivo Obirin; e às iniciativas que valorizam a cultura afro-brasileira, como a Ubuntu Libras.

 

Sobre a autora

 

Rane Souza é intérprete de conferências e tradutora. Tradutora desde 2009 e intérprete de conferências desde 2012. É idealizadora da iniciativa Abrates Afro, tendo trabalhado como coordenadora do projeto de 2018 a 2020. No mercado de tradução escrita, atua, principalmente nos segmentos editorial, marketing e de meio ambiente. Como intérprete de conferências, trabalha nos mercados corporativos, público e privado, e do terceiro setor com destaque para eventos nas áreas de relações internacionais e meio ambiente.

  • Tags:

Deixe um Comentário