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Eu Sou Abrates: Juliana Vermelho Martins

 

  • Quem é você e o que você faz?

Meu nome é Juliana Vermelho Martins, sou tradutora e intérprete. Ponto. Essa é a parte fácil de dizer. A partir daí começam detalhes que vão ficando complicados, por exemplo, idiomas e especialidades. Eu trabalho com o francês na interpretação e na tradução nos dois sentidos. Nessa língua, sou também tradutora juramentada. Há uns três anos, acrescentei o inglês às minhas línguas de trabalho. Comecei só com tradução, do inglês para o português. Depois vieram as versões. No momento estou fazendo um Mestrado em Tradução a distância na Kent State University, em Ohio, nos Estados Unidos. Nesse mestrado os trabalhos de tradução são todos do francês para o inglês. Meu objetivo é aperfeiçoar as técnicas de tradução e também o inglês escrito. Futuramente pretendo ficar um tempo em Kent e aperfeiçoar o inglês falado para que eu possa trabalhar também como intérprete nesse idioma. Hoje eu poderia atuar como intérprete de inglês passivo, mas só ousei fazer isso em ambiente de treinamento. Por fim, já fiz algumas traduções do espanhol para o português. Foram trabalhos realmente esporádicos. Não tenho exatamente uma área de especialização, mas ao longo do tempo fui concentrando minha atuação na área de Humanas. Além disso, trabalho no Departamento de Traduções da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e faço parte de um grupo de pesquisa de estudos maristas, o que me levou naturalmente para textos ligados à religião. Portanto, traduções juramentadas (do francês) e acadêmicas (o que for necessário) são as minhas áreas de concentração hoje.

  • Como você chegou à tradução e como foi seu início?

Antes de ser tradutora, eu trabalhei na Computação durante dez anos. Fiz bacharelado em Informática, depois mestrado em Ciência da Computação com ênfase em Inteligência Artificial. Fui professora universitária, dando aula de programação de computadores desde que me formei. Um dia, com meu primeiro filho ainda bebê, decidi que queria mudar de área. Ainda queria ser professora, mas de francês. Fiz então um vestibular para Letras e comecei a graduação. No meio do curso fomos, a família toda, para a França onde meu marido fez um doutorado, e tivemos nossa segunda filha. No retorno ao Brasil, terminei a graduação e comecei a dar aulas na própria UFPR, como professora substituta no curso de Letras. Só que, junto com as aulas, começaram a aparecer também pedidos de trabalhos isolados de tradução e de interpretação. Adoro ouvir podcasts de entrevistas de colegas e vejo que esse início do tipo “caí de paraquedas” é bastante comum, portanto, minha história não tem nada de original. Durante sete anos conciliei aulas de francês e trabalhos de tradução e de interpretação. Até que chegou um momento em que eu tive que fazer uma escolha e deixar alguma dessas atividades de lado. Deixei as aulas. Isso foi em 2015, eu já era tradutora juramentada há três anos e acreditei que poderia investir somente nessa atividade. Agora estou chegando ao sétimo ano depois dessa decisão, e não me arrependo!

  • Para você, qual é o aspecto mais incrível da sua área de atuação?

Certamente, é a possibilidade de aprender constantemente. Estudar coisas diferentes, coisas que eu jamais estudaria ou conheceria, se não fosse a tradução. Lembro de um professor de Didática do curso de Letras que falou o seguinte: “Saber é bom. Aprender é bom.” Concordo totalmente e isso se aplica perfeitamente à tradução. Cada novo trabalho é uma nova oportunidade de conhecer mais alguma coisa, e isso é o que mais me encanta. Sei que o ideal é o tradutor se especializar em um assunto. Entretanto, por causa do meu percurso na profissão, pelo fato de o francês não ser uma língua com grande demanda na cidade onde moro (Curitiba), pelo fato de que, na época em que comecei, o trabalho totalmente remoto ainda não era tão presente, acabei não me especializando logo de cara. E todas as vezes que tento me forçar a uma especialização, acaba aparecendo um trabalho superinteressante que me leva por caminhos nunca imaginados. E lá vou eu, a cada momento vivendo num mundo diferente. Já fiz viagens (metafóricas) incríveis, traduzindo uma simples carteira de identidade! Nesse caso era um documento de um refugiado da segunda guerra mundial. Um documento de menos de 300 palavras que me fez aprender muito. Alguns anos depois estava viajando sozinha pela Alemanha (dessa vez uma viagem real), o trem fez uma parada exatamente na cidade natal daquela pessoa e tudo voltou à minha memória. Naquele momento pensei no privilégio da profissão que eu exerço. Não tem nada mais divertido e interessante do que uma mesa de bar cheia de tradutores e intérpretes falando sobre suas experiências e conhecimentos!

  • E o mais desafiador?

Os desafios vão mudando à medida que o tempo passa e que desenvolvemos a maturidade profissional. O que era desafiador no início da carreira, já não é mais, depois de 14 anos, e isso não é diferente de qualquer profissão. Só que, lendo esta pergunta, acredito que o mais interessante seja pensar em um desafio maior, que vá além do meu percurso e que atinja a profissão como um todo. Hoje, para mim, o que tem sido desafiador é encontrar o meu lugar de importância no mundo, em meio a tantos avanços da tecnologia. É preciso lembrar que fiz um mestrado em Inteligência Artificial. Naquela época, as pesquisas sobre processamento de linguagem natural, redes neurais e outras formas de aprendizagem de máquina eram ainda assunto interno às universidades. Hoje vejo na palma da minha mão a aplicação das técnicas de reconhecimento de padrões que estudei teoricamente aplicadas ao reconhecimento facial da minha imagem como forma de liberar o acesso ao meu telefone várias vezes por dia. Uso ferramentas de tradução automática constantemente e vejo que elas estão cada vez melhores. Então, onde fica o humano? Até onde vai a participação da tecnologia, e a partir de onde será necessária a minha intervenção? Tenho refletido bastante sobre isso e acredito que esse é o nosso maior desafio para os próximos tempos.

  • Cite um mito e uma verdade sobre sua área de atuação que você só descobriu na prática.

Existe um mito no qual eu acreditava antes de ser tradutora juramentada. Claro que descobri que era totalmente falso, infelizmente. Eu pensava que o tradutor juramentado era uma espécie de emprego vitalício com salário de funcionário público daqueles enoooooormes! Acho que isso foi um dos motivos que me levou a prestar o concurso quando apareceu. É até meio vergonhoso confessar, mas eu não conhecia quase nada da atuação de um tradutor público, a não ser o pouco que eu havia usado do serviço como cliente quando morei na França e precisei levar meus documentos traduzidos. Depois que fui aprovada no concurso, fui estudar, fiz um curso e descobri a abrangência e a importância do nosso ofício. Sempre que posso explico essa questão para quem me pergunta, vejo que esse mito permanece no imaginário de muitas pessoas. Não tem muitas verdades que eu tenha confirmado; é até meio surpreendente, para mim, dizer isso. Acredito que seja porque ser tradutora ou intérprete não foi um plano na minha vida, e fui descobrindo a profissão enquanto ela acontecia. Mas posso falar sobre verdades gerais, coisas que as pessoas acreditam sobre a tradução e que eu confirmo. Por exemplo, é verdade que é preciso estudar muito. A imagem que as pessoas têm de tradutores sendo pessoas escondidas atrás de pilhas de livros é absolutamente real!

  • Qual dica construtiva você dá para quem possa estar cogitando seguir na sua área de atuação ou para quem possa estar começando?

Esta frase é muito clichê, mas é de um filósofo grego, Aristóteles, e cabe bem no que gostaria de dizer: “o homem é um ser social”. Só que tanto o tradutor quanto o intérprete, no momento exato em que estão executando seu trabalho, geralmente estão sozinhos. O intérprete ainda costumava ter mais interação porque os eventos aconteciam com público, palestrantes e equipe técnica. Com a pandemia, a RSI se consolidou e, ainda que os eventos presenciais retornem, essa será uma nova forma de atuação, certamente. Portanto, trabalhamos sozinhos. Por isso, precisamos deliberadamente procurar os colegas para poder viver essa vida social profissional da qual necessitamos. Isso não acontecerá naturalmente. Se um tradutor quiser, poderá trabalhar isolado sem jamais ver nem mesmo seus clientes por toda a vida. É possível viver assim? É. Mas é muito melhor, mais enriquecedor, mais produtivo e mais vantajoso para todos quando as pessoas se juntam. Então, no início da carreira, essa união até pode acontecer por meio de grupos em redes sociais. Mas, a partir do momento em que a pessoa percebe que “a coisa está ficando séria”, é preciso se filiar às Associações (como a ABRATES) e ao Sintra (sindicato). Comecei com um clichê e vou terminar com outro, mas a sabedoria popular é tão inteligente quanto foi Aristóteles: “Juntos somos SEMPRE mais fortes!”


Sobre você

Nome de exibição: Juliana Vermelho Martins

Área de atuação: tradutora e intérprete (Francês, Inglês). Tradutora juramentada (Francês)

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