1. Quem é você e o que você faz?
Eu me chamo Hilton Felicio dos Santos, sou engenheiro aposentado e tradutor de textos entre o inglês e português no meu escritório em casa desde 2002. Vivo em São Paulo desde 1970.
2. Como você chegou à tradução e como foi seu início?
Quando criança, tive fascinação por gibis em inglês, mas esse começou a ser meu segundo idioma quando estudava engenharia. Éramos 40 no 1º ano e queríamos excursionar 2,5 meses nas férias, pela Europa, entre o penúltimo e o último ano. Abrimos uma empresa, todos contribuíam mensalmente e fazíamos rifas de WV fuscas periodicamente. Achei que meu inglês não era o ideal para uma viagem dessas e comecei a frequentar o Yázigi ─ o mesmo que existe até hoje! Poucos anos depois de formado, e depois de uns tempos em terraplenagem rodoviária e construção civil, dediquei-me exclusivamente ao saneamento ambiental. Trabalhei então muitos anos com americanos, no Brasil e no exterior. Morei na área de Los Angeles, trabalhei num escritório de engenheiros consultores e fazia um curso noturno de projetos avançados de engenharia sanitária na USC. Anos mais tarde fui consultor da PAHO em Honduras e em Washington, D.C., morei e estudei em Tóquio três meses (programa JICA-SABESP), fui diretor de um consórcio de quatro empresas no Panamá, duas das quais eram americanas. Fiz muitas traduções de engenharia oficiosamente. O mestrado em saneamento e o doutorado em saúde pública ampliaram meu vocabulário pelas pesquisas indispensáveis. Depois de aposentado, e de tanta exposição ao inglês, fiz cursos de curta duração com instrutores brasileiros e nativos do inglês, pois decidira trabalhar como tradutor dali para frente.
3. Para você, qual é o aspecto mais incrível da sua área de atuação?
A multiplicidade de assuntos. Nesses 21 anos de ofício, estimo ter feito cerca de 70% de traduções técnicas e 30% de acadêmicas, literárias e outras, incluindo versões.
4. E o mais desafiador?
Toda tradução é um desafio, é sempre um jogo entre a melhor qualidade no menor prazo, ambos indispensáveis para manter a clientela satisfeita.
5. Cite um mito e uma verdade sobre sua área de atuação que você só descobriu na prática.
É um mito achar que conhecer dois idiomas é o que basta para que a mensagem do autor seja bem transmitida ao leitor. Dificilmente a necessidade de revisão pode ser subestimada, esta é a grande verdade. A tradução exige muita ponderação para a localização correta, aquela que permite transpor a ideia para a audiência alvo tendo em conta as diferenças socioculturais, tanto as da partida como as de chegada. Nisso, minha vivência no exterior tem sido de grande valia.
6. Qual dica construtiva você dá para quem possa estar cogitando seguir na sua área de atuação ou para quem possa estar começando?
Para fazer traduções em geral: ler bastante, acompanhar filmes e documentários de sua preferência associando a imagem visual à descrição verbal e legendada da cena e, pouco a pouco, ir dispensando a legenda.
Para fazer traduções técnicas: ver se gosta de ser detalhista na descrição de mecanismos, montagens e funcionamentos. Saber resumir sem omitir, gostar realmente do que faz. Revisar sempre antes de entregar, para ambos os tipos de tradução.
Quer participar da série Eu Sou Abrates? Envie-nos um e-mail para metafrase@abrates.com.br com o assunto “Entrevista: [seu nome]”. Esta série é exclusiva para membros.