Republicação do texto da Cristiane Tribst para o número 1 da revista Metáfrase, de setembro de 2016.
Se alguém me dissesse, há dois anos, que eu estaria participando de uma corrida de rua, acharia que era piada. Se me dissesse isso há um ano, seria quase uma piada de mau gosto: eu estava na UTI, com um problema de saúde considerado grave, de alto risco. Porém, no dia 4 de setembro de 2015, participei da minha segunda corrida de rua. O que mudou? Aqui vai um pouco da minha história…
Nunca fui adepta de atividades físicas. Quando mais nova, gostava de jogar vôlei e dançar, mas nunca pude ser classificada como atlética. Aí a vida adulta chegou e, com ela, mudança para São Paulo, trabalho, casamento, filhos, e o que já não me era natural, passou a ser impossível. E a criatividade para as desculpas evoluiu assombrosamente. Mas, num daqueles momentos que você resolve mudar um pouco, por conta de um artigo que leu, dê uma olhada mais crítica no espelho, de uma falta de luz que faz você ter que subir as escadas e ver tudo vermelho, não sei dizer com exatidão… decidi mudar alguma coisa.
Fiz uma pesquisa básica na internet (não seria tradutora se não fizesse isso) sobre quais pontos eram importantes e mais adequados ao meu dia a dia, e fui à caça de um treinador. Achei o Luciano, que hoje é também um grande amigo. Por vários motivos, a parceria funcionou, quer seja pela abordagem adotada, pelo senso de humor, pela constância, pelo profissionalismo ou, o mais provável, pela combinação disso tudo. O profissionalismo ficou claro na exigência de exames e pareceres médicos antes até da avaliação física e na formação profissional, especializada. A constância vem daquele momento em que você implora para os céus para ele faltar e lá está ele, tocando a campainha. A abordagem adotada, realista, que se ajustou perfeitamente à minha personalidade. Não tenho que ser melhor que ninguém, tenho que ser melhor que eu mesma, ontem. E o senso de humor, é claro. Quem não é, assim, amante das atividades físicas, não costuma se exercitar com um sorriso no rosto e está sempre pronto para pedir arrego. O Luciano adotou o bom humor para derrotar esse vilão. Funcionou, e estamos juntos há três anos!
Em julho do ano passado, um problema de saúde repentino me colocou na UTI. De maneira simplista, meu corpo não assimila uma vitamina essencial na produção do sangue, causando uma anemia específica e extrema. Só descobri isso quando, no período de uma semana de descanso, passei do típico “acho que vou pegar uma gripe” para um estado em que não conseguia dar dois passos. Daí foi pronto socorro, quinze dias na UTI e uma longa recuperação. Sem sangue, o coração trabalha loucamente para transportar o pouco oxigênio disponível, elevando muito o risco de um mal súbito. Compartilho essa experiência pessoal para dizer que é possível mudar. Estou longe de ser uma atleta, estou longe de ser um padrão sob qualquer análise. Mas senti da pior – ou melhor – maneira possível que uma mudança de ontem pode ser fundamental hoje. Não tivesse começado há três anos, talvez minha recuperação fosse comprometida ou, até mesmo, impossibilitada. Um coração mais forte foi fundamental para a minha sobrevivência.
Aprendi muito, e continuo aprendendo, com essa experiência. Aprendi que precisamos de pouco tempo para manter o coração ativo, que bastam dez minutos para seu corpo lembrar que ele nasceu para se mexer. Aprendi que uma paradinha e um alongamento de cinco minutos ajudam na concentração e não afeta nossos temidos prazos finais. Aprendi que dá para comer melhor mudando apenas um ou outro ingrediente. Minha proposta aqui é manter em mente a importância de vencer o sedentarismo, de buscar melhorar a qualidade de vida, de arrumar nosso cantinho de trabalho tão precioso da maneira mais ergonômica possível. Começar é a parte mais difícil, mas a recompensa vem logo – naquela corridinha natural para fugir da chuva, numa noite de sono mais tranquila, em menos dores depois de um dia todo na frente do computador. E o hábito também chega logo e, com ele, pode aparecer um novo hobby, um novo desafio e novos amigos, como aconteceu comigo.
Antes de mais nada, lembre-se de que a opinião médica sobre seu estado de saúde é essencial. Na lista de primeiros passos, esse é o passo zero. Agora imagine uma atividade que lhe traga alguma satisfação. Caminhar é sempre um bom ponto de partida. Vá até a padaria. Se subir escada é difícil, desça por elas, para começar. Atitudes que não levam mais do que dez minutos, mas que estabelecem um hábito. Acredito que cada um tem que encontrar seu caminho quando se trata de uma mudança de comportamento, mas acredito também em ideias e sugestões que ajudem cada um a buscar uma solução pessoal que se adapte à sua própria rotina. O importante é lembrar que o corpo precisa de movimento. Nós, tradutores, temos uma cabeça boa demais, ágil e cheia de vida. Ela merece um corpo que a acompanhe.
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