1. Quem é você e o que você faz?
Me chamo Tiago Coimbra Nogueira, tenho 31 anos e atualmente moro em Santa Catarina. Sou um apaixonado pelos processos da interpretação. Atuo como tradutor e intérprete de Libras-Português há mais de 10 anos e atualmente também sou professor na área dos Estudos da Tradução e Interpretação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, contribuindo com a formação de novos tradutores e intérpretes.
2. Como você chegou à tradução e como foi seu início?
Eu diria que não foi eu que escolhi a interpretação, mas a interpretação que me escolheu. Eu tive contato com a língua de sinais aos 11 anos, e tudo começou por curiosidade. Porém, aos 15 comecei a conviver mais diretamente com a comunidade surda. Nesse período, vivenciei uma imersão linguística, em que, no lugar onde os surdos da minha cidade estavam, eu também estava lá. Com a oportunidade de aprender a língua e conviver com a comunidade, começaram a surgir situações nas quais havia a necessidade da interpretação e, muitas vezes, mesmo sem ter experiência, eu era convocado a atuar. Percebendo que, para estar nessa atividade, eu precisaria me capacitar, então, fui atrás de cursos de formação. Além dos cursos, tive o apoio de muitos colegas experientes que contribuíram significativamente com minha trajetória me dando feedbacks preciosos para meu crescimento profissional. A formação foi significando as experiências práticas que eu vivenciava e, devido à grande demanda para atuação com Libras, oportunidades de trabalho foram aparecendo e, dessa forma, fui me construindo como profissional. Quando me dei conta, não tinha como retroceder: eu já era um intérprete.
3. Para você, qual é o aspecto mais incrível da sua área de atuação?
A atuação como intérprete proporciona um conhecimento de mundo muito diversificado. Poder me preparar para atuar em um evento é antes de tudo uma oportunidade de crescimento como ser humano. Essa diversidade de conteúdos, a possibilidade de estar em tantos lugares, com temas tão diferentes, são fatores que me motivam na interpretação. Quando tenho um evento sobre um assunto com que nunca tive contato, esse é um desafio bom, é um constate aprendizado.
4. E o mais desafiador?
Pelo fato de a Libras ainda precisar de maior reconhecimento social e de, muitas vezes não ser vista com o mesmo status linguístico de outras línguas, eu frequentemente me deparo com situações em que as pessoas olham o trabalho do intérprete de forma caritativa, e não com a valorização profissional esperada. Isso se reflete de muitas maneiras: no valor recebido para a atuação (quando não pedem que a interpretação seja de graça), na forma de tratamento dos clientes e nas demandas da interpretação. Normalmente, precisamos quase que convencer os clientes sobre as necessidades de equipamentos adequados e sobre o fato de que não é possível atuar sozinho por mais de uma hora. Aos poucos vamos conseguindo conquistar mais espaço e educar o mercado. Porém, ainda há muitos caminhos a seguir.
5. Cite um mito e uma verdade sobre sua área de atuação que você só descobriu na prática.
Acho que, para um intérprete, o mito da neutralidade é o que mais fica evidente. Não há como ser neutro sendo Intérprete de Libras-Português. A mensagem passa literalmente pelo meu corpo, eu estou comprometido com o que está sendo dito, mesmo que o discurso não seja originalmente meu. A principal verdade é que a capacidade de comunicação humana é imensa, ela não está apenas no aparelho fonador. As línguas de sinais estão aí para mostrar que são línguas extremamente ricas e complexas, porém na modalidade visual-espacial.
6. Qual dica construtiva você dá para quem possa estar cogitando seguir na sua área de atuação ou para quem possa estar começando?
Acho que o caminho é entender que você está sempre aprendendo. Considere que cada dia é uma possibilidade de aprender algo novo. Busque uma formação inicial adequada e participe dos movimentos profissionais e associativos; esses são espaços que contribuem significativamente para o crescimento profissional.
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